quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Rolê de Refém

Subi a Rebouças de uma vez, peguei a Paulista e fui esperar minha amiga Débora sair do trabalho. Tirava fotos dos rastros das luzes na rua, a bike apoiada numa muretinha, a mochila no chão.


Duas meninas de rua vieram se chegando. Fiquei apreensiva com a câmera na mão.

“Pçá tê medo não que nóis não é bandido. Nóis só qué uns trocado”.

A Adrielle e a Katia, 13 e 15 anos, moram perto da estação conceição do metrô. Estudam num colégio público da região, ambas na sexta série. Passavam pela Paulista procurando uns trocados para comprar um caderno novo e um presente de aniversário para o avô da Adrielle. Katia se mostrou do tipo que domina a situação. Malandra, sabe meter medo e fazer a coitadinha. Sacou que fiquei branca de pavor de levarem minha máquina. Garantiu que não fariam nada. Papo vai, papo vem, pedi pra fotografá-las e Adrielle abriu um sorrisão.

Mal baixei a câmera, Katia tomou-a da minha mão.

“Agora deixa eu tirar uma sua.”

Eu tinha certeza que fudeu, perdi a câmera. Se deliciando com meu pânico, Katia começou a dar lentos passos para trás, como quem procura o melhor ângulo para a câmera, dizendo: “cuidaaado, porque tem gente que sai correndo por aí com a câmera na mão e cê nunca mais vê; pode sair confiando assim não”. Fiquei com essa cara.

Por ser do bem ou por ter ido com a minha cara, Katia me devolveu a câmera.

“E essa bicicreta doida aí, posso dá uma volta?”.

Refém-banana-fracote que fui, deixei, certa de que o alvo fora a magrela desde o começo. Katia foi até a esquina, voltou, deixou a amiga fazer o mesmo trajeto e voltar. Débora viu a cena certa de que eu tava sendo assaltada. Chegou perto e apresentei minhas novas amigas. Cumprimentaram-se com beijo no rosto e Kátia disparou “fala pá sua amiga num dá confiança assim pus’ôtu, qui num pódi í danu a câmera na mão de qualqué um, tem muita maldade, muito trombadinha por aí”. A pedido das meninas, tiramos mais fotos.



Na hora da despedida, a pergunta que me fez paralisar: “Cê tem Orkut?”. Tinha. “Tão me adiciona e passa as fótu pá nóis?”. Mas como acessavam o Orkut se não tinham cobertor pra passar a noite? “Lá no Center 3, perto de casa, é de graça, e às veiz nóis dá uns corre pá arrumá dinhero pá í na lan house”. Adrielle tinha 8 amigos e foi quem fez o orkut da Kátia, que tinha 4. Entreguei um papel com meus dados para me adicionarem e uma esmola de R$ 1,60. Fomos de taxi pra casa da Dé em silêncio.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Coisas que mudam com a magrela

1. Sabe aquele papo de que pra curar baixa auto-estima de mulher é só passar na frente da construção? Então, agora posso dizer com conhecimento de causa, pedalar é MUITO mais eficiente.

2. Todos os dias eu conheço gente nova. Sempre que to carregando a bicicleta dobrada no metrô ou no cinema, alguém vem perguntar quanto paguei, como funciona, etc etc.

3. Nunca mais perdi tempo procurando lugar para estacionar.

4. Percorro toda a avenida Paulista em 4 minutos, independentemente do trânsito.

5. Meu braço direito está bem mais forte que o esquerdo. É ele que carrega a magrela.

6. Quando vou a algum lugar novo, procuro o metrô mais próximo e o caminho com menos
subidas.

7. Quanto mais trânsito, melhor: os carros ficam parados enquanto eu mantenho velocidade constante no cantinho da rua.

8. Pego um taxi por semana, em média. (nunca mais do que três). Somando o que eu gastava com gasolina, manutenção, seguro e IPVA, o que eu gasto com transporte público e taxi por mês agora não chega nem à metade.

9. Todo dia faço um passeio, por menor que seja, num lugar novo.

10. Vou muito mais ao cinema.

11. Agora ouço CDs inteiros: não dá pra ficar pulando as músicas de que não gosto no iPod enquanto pedalo.

12. Uso muito menos cartão de débito, tiro às segundas-feiras o dinheiro que planejo
usar na semana. Resultado: controlo BEM melhor minhas finanças.

13. Vivo com uma garrafa de água, um desodorante, um perfume e um livro na bolsa.

14. Pego muito mais carona.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Na Rotina e fora dela

Na volta do trabalho resolvi pegar o metrô para encurtar o caminho
Desci na estação São Judas do Metrô e dei uma passadinha no mercado para comprar maracujá e gengibre: estava DOIDA por um chá. Não achei minha corrente na mochila e fui correndo achando que seria seguro deixar a bike solta lá na porta.
Este simpático segurança, Paulo Silva, carregado de um delicioso sotaque cearense, não achou que fosse tão seguro assim. Sem que eu pedisse, ele grudou do lado da minha magrela e não deixou ninguém chegar perto. Ainda recomendou que quando eu quisesse fazer compras à noite, escolhesse segundas, quartas ou sextas a partir das 20h. É quando ele trabalha.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Flanando a caminho do trampo

A chrysler e eu
De repente começa a ciclovia da Faria LimaObras no Largo da Batata
Ciclovia Sinalizada!
Os coxinha atrapalhando a ciclovia
Bicicletário do prédio

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Primeiro passo

Acordar pra realizar um sonho tira a preguiça de cima. O olho abre num susto e vão uns cinco segundos para lembrar o motivo daquela empolgação gritando por dentro. Só troquei de roupa sem banho pra não perder tempo.

Cheguei à loja com o coração batendo rápido. Consumismo? Talvez. Não ligo, eu queria e pronto. Queria agora, de abrir berreiro. Pude experimentar antes de fechar a compra. Fechei. Chorei leve na volta para casa.

Pode parecer menor ou banal. Quando ganhei minha primeira bicicleta, aos 10 anos, não fiquei tão feliz quanto agora, aos 25. Talvez tenham sido os sete anos de trânsito paulistano. Subi na magrela. Os dois tombos e a insegurança de passar perto dos carros não contiveram a euforia.

Parei de pedalar na descida e segurei firme no guidão. O vento bateu forte e só percebi o sorriso quando estava feito. Não me afastei mais de dez quadras de casa. Deu para ver 15 pessoas, todas estranhas, e sete estabelecimentos comerciais que sempre estiveram debaixo do meu nariz sem que eu notasse.

Eu não era mais a motorista estressada.

"Olha vô, a moça na bicicleta". Não devia ter mais que três anos. Quis chorar pesado. Entendi por que eu queria tanto ser a moça da bicicleta. Porque tem coisas que só de cima dela é possível ver.