Subi a Rebouças de uma vez, peguei a Paulista e fui esperar minha amiga Débora sair do trabalho. Tirava fotos dos rastros das luzes na rua, a bike apoiada numa muretinha, a mochila no chão.
Duas meninas de rua vieram se chegando. Fiquei apreensiva com a câmera na mão.
“Pçá tê medo não que nóis não é bandido. Nóis só qué uns trocado”.
A Adrielle e a Katia, 13 e 15 anos, moram perto da estação conceição do metrô. Estudam num colégio público da região, ambas na sexta série. Passavam pela Paulista procurando uns trocados para comprar um caderno novo e um presente de aniversário para o avô da Adrielle. Katia se mostrou do tipo que domina a situação. Malandra, sabe meter medo e fazer a coitadinha. Sacou que fiquei branca de pavor de levarem minha máquina. Garantiu que não fariam nada. Papo vai, papo vem, pedi pra fotografá-las e Adrielle abriu um sorrisão.
Mal baixei a câmera, Katia tomou-a da minha mão.
“Agora deixa eu tirar uma sua.”
Eu tinha certeza que fudeu, perdi a câmera. Se deliciando com meu pânico, Katia começou a dar lentos passos para trás, como quem procura o melhor ângulo para a câmera, dizendo: “cuidaaado, porque tem gente que sai correndo por aí com a câmera na mão e cê nunca mais vê; pode sair confiando assim não”. Fiquei com essa cara.
Por ser do bem ou por ter ido com a minha cara, Katia me devolveu a câmera.
“E essa bicicreta doida aí, posso dá uma volta?”.
Refém-banana-fracote que fui, deixei, certa de que o alvo fora a magrela desde o começo. Katia foi até a esquina, voltou, deixou a amiga fazer o mesmo trajeto e voltar. Débora viu a cena certa de que eu tava sendo assaltada. Chegou perto e apresentei minhas novas amigas. Cumprimentaram-se com beijo no rosto e Kátia disparou “fala pá sua amiga num dá confiança assim pus’ôtu, qui num pódi í danu a câmera na mão de qualqué um, tem muita maldade, muito trombadinha por aí”. A pedido das meninas, tiramos mais fotos.
Na hora da despedida, a pergunta que me fez paralisar: “Cê tem Orkut?”. Tinha. “Tão me adiciona e passa as fótu pá nóis?”. Mas como acessavam o Orkut se não tinham cobertor pra passar a noite? “Lá no Center 3, perto de casa, é de graça, e às veiz nóis dá uns corre pá arrumá dinhero pá í na lan house”. Adrielle tinha 8 amigos e foi quem fez o orkut da Kátia, que tinha 4. Entreguei um papel com meus dados para me adicionarem e uma esmola de R$ 1,60. Fomos de taxi pra casa da Dé em silêncio.