terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Rolê de Refém

Subi a Rebouças de uma vez, peguei a Paulista e fui esperar minha amiga Débora sair do trabalho. Tirava fotos dos rastros das luzes na rua, a bike apoiada numa muretinha, a mochila no chão.


Duas meninas de rua vieram se chegando. Fiquei apreensiva com a câmera na mão.

“Pçá tê medo não que nóis não é bandido. Nóis só qué uns trocado”.

A Adrielle e a Katia, 13 e 15 anos, moram perto da estação conceição do metrô. Estudam num colégio público da região, ambas na sexta série. Passavam pela Paulista procurando uns trocados para comprar um caderno novo e um presente de aniversário para o avô da Adrielle. Katia se mostrou do tipo que domina a situação. Malandra, sabe meter medo e fazer a coitadinha. Sacou que fiquei branca de pavor de levarem minha máquina. Garantiu que não fariam nada. Papo vai, papo vem, pedi pra fotografá-las e Adrielle abriu um sorrisão.

Mal baixei a câmera, Katia tomou-a da minha mão.

“Agora deixa eu tirar uma sua.”

Eu tinha certeza que fudeu, perdi a câmera. Se deliciando com meu pânico, Katia começou a dar lentos passos para trás, como quem procura o melhor ângulo para a câmera, dizendo: “cuidaaado, porque tem gente que sai correndo por aí com a câmera na mão e cê nunca mais vê; pode sair confiando assim não”. Fiquei com essa cara.

Por ser do bem ou por ter ido com a minha cara, Katia me devolveu a câmera.

“E essa bicicreta doida aí, posso dá uma volta?”.

Refém-banana-fracote que fui, deixei, certa de que o alvo fora a magrela desde o começo. Katia foi até a esquina, voltou, deixou a amiga fazer o mesmo trajeto e voltar. Débora viu a cena certa de que eu tava sendo assaltada. Chegou perto e apresentei minhas novas amigas. Cumprimentaram-se com beijo no rosto e Kátia disparou “fala pá sua amiga num dá confiança assim pus’ôtu, qui num pódi í danu a câmera na mão de qualqué um, tem muita maldade, muito trombadinha por aí”. A pedido das meninas, tiramos mais fotos.



Na hora da despedida, a pergunta que me fez paralisar: “Cê tem Orkut?”. Tinha. “Tão me adiciona e passa as fótu pá nóis?”. Mas como acessavam o Orkut se não tinham cobertor pra passar a noite? “Lá no Center 3, perto de casa, é de graça, e às veiz nóis dá uns corre pá arrumá dinhero pá í na lan house”. Adrielle tinha 8 amigos e foi quem fez o orkut da Kátia, que tinha 4. Entreguei um papel com meus dados para me adicionarem e uma esmola de R$ 1,60. Fomos de taxi pra casa da Dé em silêncio.

7 comentários:

Cristina Casagrande disse...

Elas te adicionaram, Nati?

Anónimo disse...

Sensacional!!!

Anónimo disse...

Na, muito boa... Elas te acharam no orkut?

Nati disse...

Elas não me acharam no orkut. Se me adicionarem, faço um novo post contando!

Anónimo disse...

genial!!!! tua expressao na primeira foto mostra bem teu pavor. e tua mao esquerda se prepara pra implorar pra ela te devolver a camera. haha, mto bom!

Marina Chevrand disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

não percebi o equipamento de ciclista urbano, capacete, espelhos retrovisores, farol dianteiro e traseiro, buzina, olha que teu veículo pode ser recolhido.... mas a idéia foi genial, deve ter um montão de gente no trânsito morrendo de inveja de vc, toma cuidado!!!